Introdução

A formação dos alunos não é finalizada junto com o término do curso técnico, já que o mesmo requer reflexão contínua de acordo com as demandas inerentes a profissão.

O Sistema de Ensino Invictus possuí parceria com órgãos públicos e privados da região de sua abrangência, dos quais mantêm diálogo. Foi observado que novas dificuldades surgem de acordo em que as exigências se atualizam. Essa atualização acontece, de acordo com o surgimento de novos gêneros textuais, variedades tecnologias, e novas formas de comunicação, que podem estar relacionadas a vivências sociais, ambiente de trabalho, profissão, etc. Sob esse olhar, seguimos a concepção de Bakhtin (2000), que diz que gênero é entendido como um acontecimento habitual da comunicação humana, abrangendo papéis, relações sociais e históricas, mediada pelas linguagens oral ou escrita.

A comunicação tanto falada, como escrita, são fatores avaliativos de uma boa conduta profissional, pois existe uma linguagem própria para cada ambiente. Segundo Cox e Valezi (2011), o profissional da área da saúde precisa saber fazer um relatório, ser capaz de se atualizar por conta própria sendo um bom leitor, e desenvolver sua competência comunicativa para usar a língua em conformidade com as exigências da situação.

O ensino de linguagens é indispensável nas instituições de ensino médio técnico, independente da área escolhida. Segundo o SAEB (Sistema de Avaliação da Educação Básica), o desempenho em português tem melhorado lentamente, mas o Brasil ainda não se encontra no nível ideal. É essencial que o profissional técnico de enfermagem mantenha uma ortografia com clareza de ideias e precisão nos assuntos, pois é de extrema importância saber preencher um registro de forma adequada, e obter informações corretas.

De acordo com Annunziato (2013), a pesquisa parte de constatações dos índices de pesquisa do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (INEP), sobre o desempenho crítico dos alunos de educação básica, que vêm indicando sérias limitações, quanto à leitura e a escrita em língua portuguesa. Em sua pesquisa, a autora expressa sua preocupação quanto ao ensino ofertado nas instituições educacionais, e propõe inserir o português instrumental para cursos técnicos em saúde.

Sob essa ótica, Araújo e Rodrigues (2005) indicam que o abismo entre o analfabetismo e letramento digital pode ser estreitado mediante a discussão e estudos sobre o assunto, com o objetivo de o aluno vivenciar na prática alguns efeitos da utilização de meios tecnológicos em sala de aula, o que até então, não é muito comum em cursos técnicos de enfermagem, dado o caráter recente de tais discussões. É preciso buscar e produzir mecanismos para diminuir essa lacuna existente entre os alunos que sabem utilizar a tecnologia, e aqueles que não sabem.

Mediante a esse aspecto, nasceu o projeto de pesquisa Linguagens e Tecnologias: a importância de uma boa comunicação entre os profissionais da saúde, que tem permitido diálogo entre os órgãos de saúde, alunos e escola, referente ao uso de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) no âmbito escolar e em campos de estágio.

Como objetivo do projeto, visamos ações que ampliem o conhecimento não apenas do corpo discente, mas dos professores e da comunidade da qual a instituição está inserida, com o propósito de discutir e disseminar a base teórica e epistemológica no entendimento dos gêneros textuais; analisando propostas de ensino e aprendizagem, implementando materiais didáticos, com práticas fundamentadas e conscientes, desenvolvendo e aprimorando o letramento tecnológico.

Desenvolvimento

O projeto foi desenvolvido através de cinco etapas, algumas realizadas no segundo semestre de 2022, e outras concluídas no primeiro semestre de 2023.

A primeira etapa foi o contato com os órgãos competentes, responsáveis pelos hospitais Rocha Faria (município do Rio de Janeiro) e Carlos Chagas (estado do Rio de Janeiro), para encaminhamento dos alunos do Sistema de Ensino Invictus para realização de estágio não remunerado.

Na segunda etapa tivemos grupos de discussão, para reflexão, aprofundamento e organização dos conhecimentos teóricos acerca da temática a ser abordada.

A terceira etapa, a partir do material produzido dos estudos teóricos, realizamos cursos rápidos de aperfeiçoamento, que foram desdobrados e materializados em módulos, a partir do primeiro encontro. Os cursos ocorreram de agosto a dezembro de 2022, toda sexta-feira no horário da manhã com quatro horas de duração. Todos os participantes que atingiram no mínimo 75% de frequência receberam um certificado de participação.

A partir da quarta etapa, os alunos colocaram em prática todo o material teórico discutido nos encontros, priorizando a comunicação clara e objetiva para com os seus pacientes, utilizando recursos tecnológicos para suporte.

Na última etapa, os alunos trabalharam em grupos na construção de artigos acadêmicos, evidenciando todo o conhecimento e experiência adquiridos durante o processo.

Apesar de haver um grande número de publicações abrangendo o trabalho com diversos gêneros textuais, não há uma demanda significativa de pesquisas que investiguem como alunos de cursos técnicos compreendem, programam e operacionalizam materiais didáticos observando os gêneros do discurso. Entendemos que é fundamental a relação entre a formação específica do aluno com as Tecnologias da Informação e Comunicação, mediante a vasta carência de instrução nessa área.

Em uma sociedade da informação, a educação, conforme a atual legislação, ultrapassa o desejo de realizar treinamento para o uso de TICs, almejando nos indivíduos o desenvolvimento de competências que os permitem atuarem em sociedade, operando com autoridade diversos meios e ferramentas de seu dia a dia, tomando decisões fundamentadas em conhecimento. Conforme prevê a LDB, se faz necessário a promoção da alfabetização digital em todos os níveis de ensino. Baseando-se nisso, é necessário trazer essa teorização das TICs.

Conclusão

Com o projeto de pesquisa já concluído, pode-se observar um bom engajamento dos discentes no progresso. Os cinco níveis da pesquisa auxiliaram na formação letrada tecnológica da maioria dos envolvidos. Observamos que ainda falta uma movimentação ativa por parte do corpo docente, para que os alunos sejam protagonistas de seus processos de formação, gerando confiança e autonomia para que possam tomar decisões necessárias no dia a dia.

A comunicação melhorou significativa, com trocas de experiências, rompendo as barreiras entre os alunos e os pacientes, uma vez que já se sentem seguros em relação aos assuntos estudados, bem como com relação às Tecnologias da Informação e Comunicação.

Os alunos relataram que a comunicação entre a equipe profissional de saúde é essencial para um bom cuidado com o paciente. Essa interação é o que move a instituição de saúde independente da função exercida. Manter uma boa comunicação pode se tornar um desafio, o que a torna ainda mais importante. Não apenas entre os profissionais que trabalham no mesmo plantão, mas daqueles que passam de um plantão para o outro. Manter o prontuário do paciente sempre atualizado é indispensável para que o atendimento do mesmo seja claro e eficaz, além de evitar erros que podem complicar o quadro clínico, e até mesmo o levando a óbito.

Vale também ressaltar que a relação dos funcionários das instituições sempre deve ser rigorosamente profissional, não é o lugar para conflitos ou desavenças.  As tecnologias da comunicação agregam muitos efeitos positivos para a rotina dos profissionais de saúde, proporcionando uma melhor economia de tempo, trazendo segurança e melhoria do desempenho na desenvoltura das atividades.

Referências bibliográficas

ANNUNZIATO, Rosangela. A Língua Portuguesa: Uma proposta instrumental para cursos técnicos em saúde.  UFRGS, Rio Grande do Sul, 2013

ARAÚJO, J.C. (org). Internet & Ensino: novos gêneros, outros desafios. Rio de Janeiro: Lucerna, 2007.

BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. Tradução: Maria Ermantina Galvão G. Pereira. 3.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

CARDOSO e CASTRO, C. S. A. A influência das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) no desenvolvimento do currículo por competências. Dissertação de mestrado. Universidade do Minho, Braga: Portugal, 2006.

COX, M. I. P.; VALEZI, S. C. L. A língua portuguesa no ensino técnico-profissionalizante: a hegemonia da concepção instrumental. Polifonia, Cuiabá, MT, v.18, n.23, p.147-162, jan./jun., 2011.