Intersecções da Psicanálise com a Neuropsicopedagogia no Processo de Ensino-Aprendizagem
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Resumo
Este artigo é oriundo dos estudos sobre as intersecções da Psicanálise com a Neuropsicopedagogia e as suas potenciais contribuições ao processo de ensino-aprendizagem, tendo em vista um campo vasto para a compreensão aprofundada dos processos educativos. A Neuropsicopedagogia tem como base o entendimento dos mecanismos cerebrais para o processo de aprendizagem, com vistas à reabilitação e prevenção de possíveis dificuldades e transtornos nos indivíduos. A teoria psicanalítica nos ensina que as relações estabelecidas com os outros, em especial na primeira infância, moldam a subjetividade e influenciam as formas de interagir com o mundo. Os estudos psicanalíticos enfatizam a importância do afeto nas relações humanas e no processo de aprendizagem. Em um ambiente de aprendizagem que valoriza o afeto, os alunos se sentem mais seguros para explorar novas ideias, cometer erros e aprender com eles. Na educação, a Psicanálise lembra-nos que cada aluno é único e possui suas próprias necessidades e ritmos de aprendizagem. A relação professor-aluno, segundo Wallon, é um elemento central no processo de ensino-aprendizagem. A afetividade presente nessa relação influencia diretamente o desenvolvimento cognitivo e emocional do aluno a partir de um ambiente escolar que investe nas emoções, nas necessidades individuais e nas relações interpessoais. Essas ações contribuem para um processo de aprendizagem mais significativo e prazeroso. Nessa perspectiva, ao adentrarmos na teoria de Freud, e refletirmos sobre a relação professor-aluno, o que nos remete à transferência, se considerarmos que o educando projeta em seu docente, emoções, sentimentos e expectativas de outras figuras importantes em sua vida, como familiares e ídolos. Além disso, para a Psicanálise, o inconsciente exerce uma influência poderosa sobre o comportamento humano, inclusive no processo de aprendizagem. Os medos, ansiedades e defesas inconscientes podem tanto facilitar quanto dificultar a aquisição de novos conhecimentos. Nessa vertente, a Escuta Ativa e Empática e a técnica da Associação Livre são recursos que podem agregar à construção do vínculo profissional-cliente. Para a elaboração do trabalho, realizou-se o levantamento bibliográfico oriundos de livros, artigos e revistas acadêmicas, com vistas a explicitar as intersecções e contribuições na educação da Psicanálise com a Neuropsicopedagogia. Como resultado, emergiu que o processo de escuta tanto na terapia psicanalítica como no atendimento neuropsicopedagógico tem potencial para estimular o autoconhecimento e o empoderamento do sujeito e a Associação Livre pode contribuir para a verbalização de traumas e angústias inconscientes que reverberam nas emoções e na construção do conhecimento pelo indivíduo.
Palavras-ChaveEducação. Psicanálise. Neuropsicopedagogia. Psicanálise. Aprendizagem.
Abstract
This article comes from studies on the intersections of Psychoanalysis with Neuropsychopedagogy and their potential contributions to the teaching-learning process, with a view to a vast field for an in-depth understanding of educational processes. Neuropsychopedagogy is based on the understanding of brain mechanisms for the learning process, with a view to rehabilitation and prevention of possible difficulties and disorders in individuals. Psychoanalytic theory teaches us that relationships established with others, especially in early childhood, shape subjectivity and influence the ways of interacting with the world. Psychoanalytic studies emphasize the importance of affection in human relationships and the learning process. In a learning environment that values affection, students feel safer to explore new ideas, make mistakes, and learn from them. In education, Psychoanalysis reminds us that each student is unique and has their own needs and learning rhythms. The teacher-student relationship, according to Wallon, is a central element in the teaching-learning process. The affection present in this relationship directly influences the student's cognitive and emotional development from a school environment that invests in emotions, individual needs and interpersonal relationships.These actions contribute to a more meaningful and enjoyable learning process. From this perspective, when we enter into Freud's theory, and reflect on the teacher-student relationship, which brings us to transference, if we consider that the student projects onto his teacher, emotions, feelings and expectations of other important figures in his life, such as family members and idols. Furthermore, for Psychoanalysis, the unconscious exerts a powerful influence on human behavior, including the learning process. Unconscious fears, anxieties and defenses can either facilitate or hinder the acquisition of new knowledge. In this aspect, Active and Empathetic Listening and the Free Association technique are resources that can add to the construction of the professional-client bond. To prepare the work, a bibliographical survey was carried out from books, articles and academic journals, with a view to explaining the intersections and contributions in the education of Psychoanalysis and Neuropsychopedagogy. As a result, it emerged that the listening process in both psychoanalytic therapy and neuropsychopedagogical care has the potential to stimulate the subject's self-knowledge and empowerment and Free Association can contribute to the verbalization of unconscious traumas and anxieties that reverberate in emotions and the construction of the knowledge by the individual.
KeywordsEducation. Psychoanalysis. Neuropsychopedagogy. Psychoanalysis.Learning.
Aline Barcellos Lopes Plácido[1]
Patrícia Vieira Santos[2]
Rosemeire Ap. Barbosa de Castro[3]
[1] Graduada em Letras Português/Francês, Licenciatura em Música e em Pedagogia. Especialista em Gestão Escolar, Língua Portuguesa, Planejamento, Implementação e Gestão da Educação a Distância; Psicopedagogia, Neuropsicopedagogia, Análise do Comportamento Aplicada e Musicoterapia. Mestre em Língua Portuguesa Doutora em Ciências da Educação. Professora na SEEDUC/RJ. E-mail: lopesplacidonpp@gmail.com, Rio de Janeiro, Brasil.
[2] Psicopedagoga Clínica e Institucional. Mestre em Ciências Humanas Interdisciplinar, na linha de pesquisa Sociedade e Linguagem: estratégias de ensino-aprendizagem. Graduanda de Psicologia pela Faculdade Anhanguera de São Bernardo do Campo. Graduada em Pedagogia. Bacharel em Administração. Especialista em Gestão de Pessoas e Pós-graduada em Psicologia Organizacional. Especialista em Análise do Comportamento Aplicada – ABA. Pós-graduada em Neuropsicopedagogia, Musicoterapia e Psicanálise Clínica e Intervenções Clínicas. Assessora Técnica II, integrante da equipe Pedagógica da Divisão de Educação Continuada na EMASP – Escola Municipal de Administração Pública de São Paulo. Educadora Institucional Voluntária na EMASP. Professora universitária, palestrante e tutora de curso superior EAD e escritora de livros sobre o processo de ensino-aprendizagem. E-mail: patriciavsts@gmail.com, São Paulo, Brasil.
[3] Psicopedagoga clínica e Institucional. Licenciatura em Psicopedagogia, Pedagogia e Letras, Especialização em ABA, Alfabetização, Educação Especial, Psicomotricidade e Psicopedagogia Clínica e Institucional. Aposentada como professora na rede municipal de São José dos Campos, SP. E-mail: aulasrosemeire@gmail.com, São Paulo, Brasil.
As intersecções da Psicanálise para a Educação, sob a ótica da Neuropsicopedagogia, são amplas e focam no entendimento e intervenção sobre os processos mentais e emocionais que influenciam a aprendizagem. Sabemos que a diferença entre Psicopedagogia e a Neuropsicopedagogia encontra-se, já inicialmente, em sua base, a qual chamamos, em ambas, de tripé. Na Psicopedagogia, temos esse tripé constituído da seguinte forma: Pedagogia, Psicologia e Psicanálise.
(…)disciplinarmente a Psicopedagogia tem na sua a origem a interdisciplinaridade e transdisciplinaridade. Atualmente, ela é
entendida como um campo de atuação que encontra entre a Pedagogia e a Psicologia ou a Psicanálise; (RUBINSTEIN, 2004).
Já em Neuropsicopedagogia, Pedagogia, Psicologia e Neurociência.
Com a junção da neurociências, da psicologia e da pedagogia originou-se uma nova ciência
transdisciplinar, a Neuropsicopedagogia, cujo objetivo é compreender as funções cerebrais para o processo de aprendizagem, com intuito na reabilitação e prevenção dos eventuais problemas detectados
nos indivíduos. (AVELINO, 2019).
A princípio, observa-se o abandono da Psicanálise ao adentrarmos na esfera da neuropsicopedagogia e tal conclusão reducionista poderia nos fazer abrir mão de valiosos recursos que essa ciência, ou pseudociência, como alguns a concebem, poderia nos trazer.
O primeiro recurso valioso da Psicanálise para a Neuropsicopedagogia seria a Escuta Ativa. Ouvir atentamente o que o analisando diz, não apenas as palavras, mas também as emoções, os sentimentos e significados subjacentes, permite que o analista compreenda melhor o inconsciente do sujeito. Muitas vezes, experiências emocionais dolorosas no cenário da aprendizagem fazem com que o aprendente se coloque em uma posição de defesa ou de desânimo em relação à intervenção neuropsicopedagógica. Nesse momento, a Escuta Ativa, ausente de julgamento, cria um ambiente seguro que ele sente-se livre para expressar seus pensamentos e sentimentos sem medo de críticas, instrumentalizando o profissional com informações importantes para a escolha da melhor diretriz interventiva a ser tomada em cada caso.
Outro recurso importante que a Psicanálise nos traz é a Associação Livre. A partir dela, o indivíduo é encorajado a falar livremente, seguindo suas associações de ideias. Essa técnica ajuda a acessar conteúdos inconscientes, revelando conflitos e desejos que podem estar na raiz de suas dificuldades. É comum pensarmos nas dificuldades de aprendizagem como algo apenas relacionado a um processo mal elaborado, seja no ensino, seja na aprendizagem do aluno. Não é raro encontrarmos nesse contexto, crianças vítimas de abuso emocional e que, por essa razão, não alcançam um bom desempenho escolar.
O abuso emocional é uma das formas mais comuns de maus tratos infantis, com consequências negativas na saúde mental e no desenvolvimento biopsicossocial da criança:
● problemas cognitivos;
● entraves à aprendizagem, como a falta de atenção;
(…)
● maior tendência a desenvolver várias doenças do foro psiquiátrico, como depressão, ansiedade, transtornos de personalidade e stress pós-traumático;
● menor capacidade de controle de emoções;
● maior dificuldade na criação e manutenção de boas relações sociais, culminando num aumento de problemas interpessoais;
● falta de autoestima e satisfação com a vida, havendo até um aumento da tendência ao suicídio. (Faria et al, 2022).
No atendimento psicanalítico é importante trabalhar com a compreensão dos processos inconscientes no aprendizado do analisando, a Psicanálise introduz o conceito de que muitos processos mentais que afetam o aprendizado são inconscientes, como traumas, bloqueios emocionais e conflitos internos. A contribuição da Psicopedagogia e Neuropsicopedagogia, ao considerar esses aspectos, pode criar estratégias que promovem um ambiente seguro e acolhedor para o sujeito, valorizando seu histórico, sendo fundamental incluir questões familiares e emocionais.
A Psicanálise enfatiza as experiências precoces, possibilitando a reflexão e a elaboração de novos comportamentos e as reações emocionais, e a Neuropsicopedagogia usa essa compreensão para ajudar o aprendente a superar barreiras emocionais no aprendizado, desenvolvendo um ambiente de escuta ativa e empatia. Reiterando que a escuta isenta de críticas, é um conceito central na Psicanálise e essencial na relação do terapeuta/analisando. Sob a ótica Neuropsicopedagógica, criar um espaço onde o aprendente sinta-se ouvido e compreendido contribuirá para reduzir a ansiedade, facilitando a aprendizagem e melhorando a autoestima. A teoria de Wallon oferece contribuições para o processo de ensino-aprendizagem, ao destacar a relevância da afetividade na educação considerando o aluno como um ser integral, com suas emoções, necessidades e singularidades, essa visão convida-nos a repensar a prática pedagógica e terapêutica, buscando criar ambientes de aprendizagem mais humanizados e que promovam o desenvolvimento integral do aluno.
A identificação e intervenção em transtornos emocionais e comportamentais é um dos pontos mais importantes no atendimento Neuropsicopedagógico, questões como ansiedade, depressão e transtornos de conduta podem interferir diretamente no processo de aprendizagem.
A Psicanálise contribui com a leitura e a compreensão desses aspectos, enquanto a Neuropsicopedagogia aplica estratégias de intervenção que buscam promover o bem-estar emocional e a autoconfiança, em que trabalha o conceito de desejo e motivação, que pode ser aplicado na educação para estimular o interesse genuíno pelo conhecimento, beneficia desse entendimento ao criar metodologias que despertam a curiosidade e o prazer no aprender, ajudando o aluno a se engajar de forma mais espontânea. Através do apoio na construção da identidade e autonomia do indivíduo, o processo educativo é também um espaço de construção de identidade e autonomia.
Neuropsicopedagogia e Psicanálise no atendimento clínico
A resistência à aprendizagem, muitas vezes necessita intervenção em casos de oposição e desmotivação escolar, pois está associada a conflitos internos ou problemas emocionais. A Psicanálise ajuda a identificar esses bloqueios, enquanto a Neuropsicopedagogia aplica práticas de intervenção, como atividades que favorecem a expressão emocional e a superação de dificuldades de uma forma segura e contextualizada, enfatiza a importância do autoconhecimento e da elaboração de conflitos internos, oferece contribuições significativas no atendimento de crianças com problemas emocionais, fornecendo ferramentas para que o terapeuta compreenda o mundo interno da criança e ajude a trabalhar suas angústias e conflitos, o que pode ser integrado pela Neuropsicopedagogia no apoio ao desenvolvimento de uma autoestima saudável e de uma identidade de aprendiz.
Essas contribuições enriquecem a prática educacional, ao integrar as questões emocionais e inconscientes no processo de ensino, facilitando um aprendizado mais inclusivo, acolhedor e transformador para os alunos. A Psicanálise aponta que experiências emocionais inconscientes influenciam diretamente o comportamento e a motivação do sujeito, as dificuldades de aprendizagem, muitas vezes, têm como origem questões afetivas e emocionais que se manifestam no inconsciente do aluno e interferem no seu desenvolvimento escolar, oferece uma base teórica valiosa para o atendimento Neuropsicopedagógico, abordando não só as questões cognitivas, mas também as emoções e os conflitos inconscientes que impactam a aprendizagem.
A Neuropsicopedagogia, ao reconhecer essas interferências inconscientes, cria intervenções que levam em conta as experiências emocionais do paciente para facilitar o aprendizado. Para muitas crianças, as palavras não são suficientes para expressar sentimentos profundos. Silveira (1981), destaca a importância do uso da arte como meio de expressão emocional, afirmando que “através do desenho, a criança consegue externalizar sentimentos que muitas vezes não consegue verbalizar”. O desenho e outras formas de expressão artística permitem que a criança expresse de maneira simbólica emoções complexas, ajudando o terapeuta a acessar o seu mundo interno.
A confiança e o vínculo entre a criança e o terapeuta é fundamental, para o sucesso do processo terapêutico. Kupfer (2001), importante autora brasileira na área, discorre que a transferência é basilar no percurso psicanalítico com crianças, permitindo que o analista seja uma referência confiável para o analisando, contribuindo para o compartilhamento das emoções nas sessões. Essa relação de confiança é crucial, especialmente para crianças com traumas ou problemas emocionais, pois cria um ambiente em que elas se sentem seguras para explorar seus sentimentos.
Ao ouvir o analisando ou aprendente, é possível identificar como suas dificuldades de aprendizagem estão relacionadas a experiências emocionais e cognitivas. Através da escuta, é possível perceber padrões de pensamento que podem estar impactando seu desempenho escolar. Nesses casos, muitas vezes, os próprios responsáveis encobrem o problema desejando crer que a dificuldade de aprendizagem não está ligada a outra questão, a não ser a própria dificuldade apresentada pelo analisando. Há quem pense de forma contrária ao fato de que a Neuropsicopedagogia deva envolver-se com as questões emocionais quando falamos em aprendizagem e, por isso, questionam o uso da Psicanálise como recursos a ser utilizado pela área. Porém, quando defendemos nossa posição em relação ao uso de tal recurso em nossas intervenções, o fazemos com a certeza de que, sim, as emoções são responsabilidade da nossa abrangência de trabalho, uma vez que, balizados também na neurociência, lançamos mão da neurociência das emoções. Vejamos no caso de aprendentes adolescentes. Por mais que desejemos ignorar os aspectos emocionais nas intervenções Neuropsicopedagógica, não poderemos por ser uma fase de natureza conflitante, nesse aspecto. E um dos motivos, são as mudanças neurobiológicas.
Embora a adolescência seja uma fase extraordinária, conviver com os jovens que passam por esse momento de transição entre a infância e a vida adulta não costuma ser uma tarefa muito fácil, não é verdade? Alterações comportamentais, tais como: irritabilidade, impulsividade e até mesmo ações inconsequentes são marcadas por essa fase e podem elevar o risco de morte em 200%, de acordo com pesquisas científicas.61 Mudanças hormonais, neurobiológicas, corporais, menarca,62 aparecimento de pelos na face e genitália, oscilações no timbre vocal e aumento dos seios começam a aparecer ou se intensificar durante esse período que, para a lei brasileira, vai dos 12 aos 18 anos de idade. (OLIVEIRA, 2021)
Nos utilizamos da compreensão de que as bases neurobiológicas das emoções estão relacionadas à complexa interação entre diferentes áreas do cérebro, envolvendo principalmente estruturas como o sistema límbico, o córtex pré-frontal e o hipotálamo. Essas regiões desempenham papéis fundamentais na regulação e processamento das emoções, influenciando diretamente a forma como percebemos e respondemos a estímulos emocionais. Está cada vez mais evidente a importância da plasticidade neural nesse contexto, mostrando como a aprendizagem e a experiência emocional podem alterar a conectividade e função do sistema nervoso central.
Além da estrutura cerebral, os mecanismos neuroquímicos das emoções envolvem uma série de neurotransmissores e hormônios. Eles desempenham um papel fundamental na regulação e expressão das emoções. A dopamina, a serotonina e a noradrenalina são alguns dos principais neurotransmissores envolvidos na modulação do humor e das emoções. Além disso, hormônios como o cortisol e a oxitocina também desempenham um papel importante na regulação do estresse e das emoções sociais, respectivamente. Compreender o papel desses neuroquímicos nas emoções é essencial para entender como elas afetam a aprendizagem e o comportamento.
A integração das emoções e cognição é um processo complexo que envolve a interação de diferentes áreas do cérebro. As emoções podem influenciar a maneira como processamos informações e tomamos decisões, demonstrando a estreita relação entre o sistema emocional e o sistema cognitivo. Essa integração é fundamental para a aprendizagem, uma vez que as emoções podem impactar a atenção, a motivação e a memória, influenciando diretamente o processo de aquisição de novos conhecimentos.
A cognição é fundamental na aprendizagem, que cria uma complexa a ligação entre funções psicofisiológicas e a coordenação por meio das redes neuronais. A emoção, por sua vez, está ligada à cognição em todos os níveis, tanto de forma primária (inata) como de forma secundária (social).
Um processo cognitivo que requer alta demanda de atenção, como é a tomada de decisão, exige uma ligação entre esses mecanismos atencionais e decisórios e as emoções. Por exemplo, uma pessoa que esteja em uma rua deserta e se depare com um cão pode apresentar diferentes reações: correr por causa da ativação da emoção medo ou tomar a decisão de parar e acariciar o animal caso goste muito de cães, ativando, assim, a emoção alegria, por exemplo. Isso mostra que as emoções podem ser aprendidas e desenvolvidas socialmente, de acordo com a relação com o ambiente. (MORAES, 2020).
Pelas razões elencadas, é campo de estudo da Neuropsicopedagia o estudo das emoções e a busca de recursos que possam auxiliar em manejo ideal, com foco no sucesso da aprendizagem. A partir desse pensamento, sugerimos a integração da Psicanálise como recurso eficaz ao trabalho do neuropsicopedagogo.
Considerando que, tanto a psicanálise quanto a neurociência buscam compreender a mente humana e os processos mentais, mesmo que por vias distintas, – a psicanálise se baseia na introspecção, observação clínica e interpretação simbólica, enquanto a neurociência busca compreender os processos mentais por meio de métodos empíricos e objetivos – tal divergência oferece desafios, porém também proporciona um campo fértil para a integração, promovendo uma compreensão mais ampla e profunda da mente humana, contribuindo para o desenvolvimento de intervenções terapêuticas mais eficazes, combinando técnicas psicanalíticas com a compreensão neurocientífica dos processos mentais e cerebrais. Essa integração possibilita a personalização do tratamento, levando em consideração as especificidades biológicas e psicológicas de cada indivíduo, resultando em uma abordagem mais precisa e eficiente. A busca ativa com a Associação Livre nos fará perceber outras nuances, talvez até mais importantes, nesse processo. Como neuropsicopedagogos, diante disso, precisaremos realizar encaminhamentos para outros profissionais da área de terapia psicológica ou psicanalítica.
Por fim, neste breve e rico momento em que refletimos sobre as interseções da Psicanálise e a Neuropsicopedagogia, enfatizamos a relevância da empatia na escuta, assim, o analista tenta compreender a experiência do analisando a partir de sua perspectiva, promovendo um vínculo mais forte e facilitando o processo terapêutico. Ao compreender as emoções e experiências da criança e do adolescente permite ao profissional conecte-se com eles de forma mais profunda, criando um ambiente seguro que se sintam à vontade para compartilhar suas dificuldades.
Ao unirmos os recursos da Psicanálise ao acompanhamento neuropsicopedagógico, conseguimos trabalhar na promoção da autonomia e do autoconhecimento: ao integrar a escuta psicanalítica, a criança e o adolescente serão encorajados a refletir sobre suas experiências e a compreender melhor a si mesmo. Isso não só poderá ajudar nas dificuldades de aprendizagem, mas também a promover o desenvolvimento pessoal mais amplo, favorecendo a autonomia. Esses aspectos mostram como a escuta clínica pode ser uma ferramenta poderosa na Neuropsicopedagogia, permitindo uma abordagem mais abrangente e sensível às necessidades dos adolescentes, levando-os ao reconhecimento e compreensão das suas emoções, sentimentos e angústias, por conseguinte, a melhoria da assimilação do conhecimento no âmbito escolar.
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Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)
SANTOS, Patrícia Vieira, Plácido, Aline B. L. (ORCID 0009-0002-1947-062_) e Castro, Rosemeire Ap. Barbosa. Intersecções da Psicanálise com a Neuropsicopedagogia no Processo de Ensino-Aprendizagem. Disponível em: https://revistadifatto.com.br/artigos/interseccoes-da-psicanalise-com-a-neuropsicopedagogia-no-processo-de-ensino-aprendizagem/. Acesso em: 17/12/2025.
