Gravidez na adolescência: Impactos na vida da adolescente e família
Autores
Resumo
A adolescência normalmente é uma fase de grandes descobertas e experimentações, podendo ser definida também por diversas mudanças, sejam fisiológicas e/ou psicológicas. O presente estudo tem como objetivo revisar sobre os impactos causados na vida da família e, em especial, da adolescente que passa por uma gestação precoce, discutindo os coeficientes que contribuem para a gravidez na adolescência. Para tanto foi realizada revisão narrativa da literatura utilizando artigos publicados nas bases de dados eletrônicas LILACS, BDENF, MEDLINE e na biblioteca eletrônica de acesso aberto, SciELO. De acordo com os estudos realizados, evidencia-se que a gravidez na adolescência é um assunto que traz consigo uma resistência social, no entanto, precisa-se estabelecer um contato maior com os adolescentes, para que a temática seja disseminada, fazendo com que os mesmos compreendam os riscos que a gravidez na adolescência pode causar a si próprios e a outrem.
Palavras-ChaveGravidez na adolescência. Saúde Reprodutiva. Família. Sexualidade.
Abstract
Adolescence is normally a phase of great discoveries and experiments, and can also be defined by several changes, whether physiological and/or psychological. The present study aims to review the impacts caused on the life of the family and, in particular, the adolescent who goes through an early pregnancy, discussing the coefficients that contribute to teenage pregnancy. To this end, a narrative review of the literature was carried out using articles published in the electronic databases LILACS, BDENF, MEDLINE and the open access electronic library, SciELO. According to the studies carried out, it is clear that teenage pregnancy is a subject that brings with it social resistance, however, greater contact with teenagers needs to be established so that the topic can be disseminated, making themselves understand the risks that teenage pregnancy can cause to themselves and others.
KeywordsPregnancy in Adolescence. Reproductive Health. Family. Sexuality.
Introdução
Com base no artigo 2º do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é considerado adolescente, indivíduos com faixa etária de 12 a 18 anos1. Conforme o artigo 227 da Constituição Federal de 1988, conjunto de leis que regem nosso país, é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar ao indivíduo em suas fases, desde criança até a juventude, estando sempre em prioridade, os direitos fundamentais ao ser humano, em especial à vida, à educação, à saúde, à dignidade, e à convivência social, além de resguardá-los de toda e qualquer forma de negligência, violência e exploração. Com isso, mesmo protegidos legalmente, os índices de prevalência da gravidez na adolescência são alarmantes2, 3.
Dados indicam que as ocorrências de gravidez na adolescência no Brasil galgam em comparação ao índice global. O percentual de gestação na adolescência no Brasil é significativamente alto, com um número de 400 mil casos/ano. No que se refere à faixa etária, os dados sinalizam que, no ano de 2014, nasceram 28.244 crianças de adolescentes entre 10 e 14 anos, e 534.364 filhos de meninas que se tornaram mães com idade entre 15 e 19 anos. Esses dados apresentados são pertinentes e demandam medidas urgentes e imediatas4.
O amadurecimento feminino na adolescência é definido por diversas mudanças e diferentes ocorrências fisiológicas e psicológicas. A fase do conhecer alguém, o namoro e a relação sexual, em contexto geral, é precipitosa e, em primeiro momento, experimental5. É inegável que as adolescentes que passam pela fase do amadurecimento precoce não devem ser, de maneira exagerada, induzidas a sacrificarem sua infância6.
Consideram-se problemáticas oriundas da gravidez na adolescência os danos psicossociais, evasão escolar e redução das oportunidades de inserção no mercado de trabalho, gerando, na maioria das vezes, insatisfação pessoal e constância do ciclo de pobreza. Com isso, é possível perceber que nesse período em que a adolescente gestante se encontra, há uma instabilidade emocional que precisa ser destacada, podendo ser desenvolvida uma depressão, pela falta de apoio familiar e julgamento da sociedade, bem como, uma nova realidade de vida mais complexa que precisará ser enfrentada, ocasionando assim, descuidos e uma falta de atenção mais que necessária que podem ser fatais para a mãe e para seu futuro e do seu bebê7.
A gravidez precoce traz consigo a assumpção de responsabilidades incompatíveis com a idade da púbere8. A gestação juvenil é um acontecimento marcante na vida das famílias, em particular da gestante, que se submete a maior nível de vulnerabilidades ou riscos sociais.
Objetivo
A gravidez na adolescência representa um fenômeno multifatorial que impacta diretamente a vida da jovem e de sua família, desencadeando consequências que transcendem a esfera individual e se estendem ao contexto social e econômico. Diante disso, este estudo tem como objetivo analisar os impactos causados pela gestação precoce, considerando os desafios enfrentados pela adolescente em termos de saúde física e mental, mudanças na trajetória educacional e profissional, além das repercussões emocionais e financeiras que afetam sua família. Além de investigar os fatores que contribuem para a ocorrência da gravidez na adolescência, este trabalho busca discutir os mecanismos de suporte disponíveis para a jovem e seus familiares, avaliando sua eficácia na minimização dos impactos decorrentes da gestação.
Materiais
Para a realização deste estudo, foi conduzida uma revisão de literatura, a partir da seleção de publicações científicas que abordam a gravidez na adolescência e seus impactos. O levantamento bibliográfico foi realizado em bases de dados eletrônicas reconhecidas pela comunidade científica, incluindo a LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências de Saúde), BDENF (Base de Dados de Enfermagem), MEDLINE (Literatura Internacional em Ciências da Saúde) e a biblioteca eletrônica de acesso aberto SciELO (Scientific Electronic Library Online).
A busca pelos estudos ocorreu por meio da utilização de descritores específicos, selecionados com base na terminologia adotada pela área da saúde, garantindo maior precisão e relevância na obtenção dos dados. Os principais descritores utilizados foram: gravidez na adolescência, saúde reprodutiva, família e sexualidade.
Os critérios de inclusão estabelecidos para a seleção dos artigos abrangeram publicações disponíveis em português e inglês, com um recorte temporal de até dez anos, visando garantir que as informações analisadas estivessem alinhadas com o cenário atual da problemática estudada. Além disso, foram priorizados estudos que apresentassem análises quantitativas e qualitativas sobre os impactos da gravidez na adolescência, possibilitando uma compreensão mais abrangente do tema.
Já os critérios de exclusão envolveram artigos duplicados, estudos que não abordassem diretamente os impactos da gravidez na adolescência e materiais que não apresentassem metodologia clara e bem definida.
Métodos
A metodologia adotada neste estudo seguiu os princípios de uma revisão de literatura, que se caracteriza por sua abordagem ampla e exploratória, permitindo a identificação, a síntese e a análise crítica de conhecimentos previamente produzidos sobre determinado tema. Esse tipo de revisão possibilita a construção de um panorama geral sobre a problemática estudada, sem a necessidade de um protocolo sistemático rígido, o que confere maior flexibilidade à pesquisa e permite a inclusão de diferentes perspectivas teóricas e metodológicas.
O desenvolvimento desta pesquisa seguiu um conjunto estruturado de etapas para garantir a coerência e a profundidade da análise. Inicialmente, foi realizada a definição do tema de estudo, delimitando a problemática da gravidez na adolescência e seus impactos na vida da jovem e de sua família. Em seguida, procedeu-se ao levantamento bibliográfico, no qual foram selecionadas as bases de dados e os descritores mais adequados para a busca dos artigos científicos.
Após a obtenção dos materiais, deu-se início à organização e análise dos dados coletados, onde os estudos selecionados foram lidos e categorizados conforme sua relevância e contribuição para os objetivos da pesquisa. Durante essa etapa, foram identificados os principais impactos da gravidez precoce, bem como os fatores sociais, econômicos e emocionais que influenciam essa realidade. Além disso, foram analisadas as políticas públicas e estratégias de suporte voltadas para adolescentes grávidas e suas famílias, permitindo uma reflexão crítica sobre as medidas existentes e sua efetividade na mitigação dos desafios enfrentados por esse grupo.
Por fim, os dados foram interpretados e contextualizados, levando em consideração as diversas perspectivas abordadas nos estudos revisados. Essa análise buscou sintetizar as informações de forma coerente, apresentando um panorama detalhado sobre os impactos da gravidez precoce e os desafios enfrentados tanto pelas adolescentes quanto por seus familiares.
Resultados e Discussão
A adolescência é um período essencial na vida de um indivíduo. A curiosidade impulsiona novas descobertas e aspectos e mudanças anatomofisiológicas, como a variações no perfil hormonal, que acarretam modificações de comportamento e percepção social9. A adolescência é um período natural, universal e relativamente estático. Sendo assim, a puberdade pode ser entendida como uma fase inevitavelmente vivenciada por todos, não obstante, singular e particular10.
Durante a adolescência ocorre a estruturação da identidade própria, firmando o Eu através das relações de reciprocidade, troca e partilha em uma construção dinâmica com a comunidade a sua volta, servindo de base para a consolidação da sua personalidade11. Há um predomínio de influências por meio de fatores interpessoais e/ou culturais que podem interferir tanto na tomada de decisões quanto na vida da jovem.
A gravidez na adolescência é um problema de saúde pública no Brasil e em todo o mundo. Para entender os possíveis fatores etiológicos ligados ao incremento das gestações nessa faixa etária, é preciso perceber a complexidade e as muitas causas desses fatores que tornam as adolescentes especialmente vulneráveis a essa situação, pois por se tratar de meninas que não se encontram em condições mentais e físicas, se deparam com adversidades como a evasão escolar, a falta de realização de pré-natal, a rejeição e o abandono da família, a decisão de abortar geralmente, em condições não seguras, devido ao despreparo físico e mental ocasionam um aborto espontâneo, além do risco de mortalidade materna e/ou de um nascimento prematuro. Entender tais complexidades e problemas gerados por essas gestações é de extrema importância para melhor abordar e conscientizar sobre tal assunto12.
A gravidez na fase da adolescência é um fator significativo para ocorrências de parto prematuro e alta taxa de mortalidade infantil, acarretado pela idade das gestantes, baixa adesão ao pré-natal e complicações durante o período gestacional13. Isso ocorre, pois nessa fase se extrai da menina mãe a oportunidade de viver, de uma forma natural, cada momento é fase da vida que poderia ser vivida, subtraindo, desse modo, a chance de amadurecer. Não podendo deixar de ressaltar o círculo vicioso de miséria onde a adolescente é inserida, justamente por ela nem sempre ter boas condições financeiras para lidar com a vida adulta em que é obrigada a se enquadrar e para cuidar do criança e suprir as necessidades de ambas14.
Um fato que não pode ser ignorado é a possibilidade de morte da adolescente por complicações no período gestacional, puerpério ou parto, devido ao estágio de desenvolvimento e maturação hormonal e corporal15. Não sendo apenas um assunto urgente e complexo, traz também resultâncias nefastas às vidas das mães adolescentes, tratando-se de um resultado (a gravidez) nunca esperado e imaginado tão precocemente.
De maneira concisa, inúmeros aspectos são responsáveis e contribuem para que a gravidez na adolescência seja uma realidade no meio populacional. Contudo, é inegável que a desinformação no que concerne às práticas sexuais, direitos sexuais e reprodutivos é o mais notável e preeminente fator. O incentivo ao diálogo, a escuta, evitando julgamento e a não culpabilidade, deixando de lado a incansável procura por um culpado são os principais e mais importantes apetrechos para lidar com o assustador revés existente na gravidez prematura.
A gravidez na adolescência não deve ser analisada apenas como uma questão biológica ou individual, mas sim como um fenômeno social profundamente enraizado em fatores econômicos, culturais e estruturais. Em muitas comunidades, a falta de diálogo sobre educação sexual e contracepção, aliada a uma cultura que romantiza a maternidade precoce ou impõe restrições ao debate sobre sexualidade, contribui significativamente para a recorrência desse fenômeno. Além disso, a vulnerabilidade social e econômica de muitas jovens as expõe a relações desiguais de poder, nas quais a autonomia sobre suas decisões reprodutivas é limitada.
Muitas adolescentes não possuem acesso a métodos contraceptivos de maneira adequada, seja por falta de informação, seja por barreiras impostas pelo próprio ambiente familiar ou pelas dificuldades de acesso a serviços de saúde. Esse contexto revela como a gravidez precoce não pode ser tratada isoladamente, mas sim como parte de um ciclo de desigualdade que precisa ser rompido por meio de políticas públicas eficazes e da ampliação do acesso à informação e aos serviços de saúde sexual e reprodutiva.
A gravidez na adolescência traz consigo mudanças na vida de uma jovem. É notório o surgimento de problemas emocionais e psicológicos, em especial depressão pós-parto e, até mesmo, mudanças de objetivos, onde a mesma passa a enfrentar uma nova realidade, incorporando-se no papel de indivíduo adulto ainda na mocidade16. A adolescente se vê obrigada a tomar atitudes que outrora eram tomadas pelo pelos familiares (baseadas nas experiências destes). A partir daí, é possível evidenciar o surgimento dos problemas emocionais e psicológicos vividos pela mãe adolescente, principalmente em detrimento da sobrecarga de atividade17.
Um fato importante é que uma das grandes causas da evasão escolar é a gravidez na adolescência, por mais que em declínio, os índices continuam com uma média preocupante. A evasão escolar, sentimento de insegurança, medo com a descoberta da prenhez, são consequências desencadeadas que afetam tanto a adolescente quanto seu contexto social e familiar18. A fuga do sistema educacional provocado pelo fenômeno inesperado acaba comprometendo as chances de progressão da púbere, gerando um empecilho para que a educação formal seja concluída de modo que, consequente, reflete diretamente na vida financeira e social da nova família, como desvantagens em relação ao trabalho e à introdução no setor produtivo do trabalho, tornado-a extremamente vulnerável à pobreza.
A carência de fontes de apoio, seja assistencial, afetivo ou financeiro, afeta sobremaneira como a adolescente enfrenta o fenômeno da gestação, podendo sofrer complicações tanto ao nível físico quanto psicológico. É inegável que os acolhimentos familiares, escolares e sociais são essenciais para a saúde tanto física quanto mental delas e de seus filhos19. Isso porque a gravidez prematura acarreta riscos para a saúde física e mental da adolescente-mãe e da criança, ressaltando consequências que podem ser arrastadas durante toda a vida ou, até mesmo, provocar a morte da parturiente e do recém-nascido. Por isso, surge uma necessidade gritante de redes de apoio para essas famílias recém-inseridas no meio social, a fim de ajudar esse início a ser menos doloroso e trazer conhecimento as que apresentarem pouca informação.
A saúde mental da adolescente grávida também deve ser considerada um fator crítico na análise dos impactos da gravidez precoce. O peso emocional de lidar com uma gestação indesejada ou não planejada, muitas vezes sem o apoio adequado da família e do parceiro, pode levar a quadros de ansiedade, depressão e baixa autoestima. A sobrecarga emocional e a sensação de desamparo podem afetar a forma como a jovem vivencia a maternidade, interferindo no vínculo com a criança e na qualidade dos cuidados prestados. Esse aspecto é ainda mais preocupante quando se observa que muitas dessas adolescentes já vivem em contextos de vulnerabilidade e enfrentam dificuldades emocionais antes mesmo da gestação, tornando-se ainda mais suscetíveis a transtornos psicológicos.
A adolescente grávida se depara com a necessidade de abandonar os estudos devido à sobrecarga emocional e social, resultando em problemas psicossociais que poderiam ser evitados. A gestação nessa faixa etária resulta na interferência do desenvolvimento pessoal e evolução em âmbito profissional, pois nessa nova realidade elas deixam de ser estudantes e passam a ser mães adolescentes sem formação e experiência para a inserção no mercado de trabalho, já que no início da gestação se vêm obrigadas a deixarem os estudos. E ainda, retornar ao ensino educacional após o parto não demonstra facilidade, gerando uma dependência familiar maior20.
O desprovimento de acesso à proteção social e ao sistema de saúde podem ser também ocasionados por questões e aspectos contextuais, emocionais e psicossociais, resultando na elevação dos índices de gestação precipitada e podendo gerar uma série de complicações, tanto para a menina mãe, quanto para o feto e o recém-nascido21.
Em suma, o maior público impactado com a problemática é a adolescente gestante, visto que, a partir do resultado positivo para a gravidez, iniciam-se inúmeros problemas, transtornos, inseguranças, pré-conceitos e pré-julgamentos que fazem com que a adolescente se sinta obrigada a mudar todo seu estilo de vida, começando com a evasão escolar.
A gravidez na adolescência faz-se opositória quando o quesito é seguir os planos traçados inicialmente para a vida das adolescentes, isso porque a nova realidade atualmente vivida pela menina-mãe, bem como de seus pais e familiares, vem com a função de interromper os projetos de vida antes traçados pelos pais. Além disso, desperta sentimentos de impotência, descuido e contrariedade em todos os familiares por, na percepção deles, não terem protegido a adolescente, somado também aos sentimentos de inseguridade e medo vividos pela menor diante das reações imponderáveis de seus pais22.
É de grande importância das relações familiares e suas transformações durante o processo da juventude, pautando a necessidade de compreensão e flexibilização das fronteiras, pois é através do vínculo familiar onde os adolescentes encontram apoio e direções necessárias para alcançar um futuro promisso e cheio de expectativas para conquistas vindouras à medida que passam por todas as fases, existentes na vida humana23. Assim, percebe-se o quanto é fundamental a presença da família durante as mudanças da puberdade para construção da individualidade, da identidade e dos relacionamentos, tendo sempre uma base em que pode ampará-los nos momentos de tais mudanças e um modelo a seguir para que venham ser indivíduos de caráter, de bem e que são aptos a viverem em sociedade.
Estudos destacam a necessidade da boa comunicação entre os pais e as adolescentes, visando levar a informação adequada a respeito do sexo seguro e a problemática da gravidez precoce, não com a intenção de incitarem a prática do sexo aos adolescentes, mas tão somente, com a intenção de alertá-los aos perigos da prática do sexo sem proteção e as consequências que a gravidez precoce podem acarretar a todos os envolvidos (adolescentes, familiares e os bebês), como também prevenir que os índices de gravidez na adolescência continuem crescendo alarmantemente24. Quando a comunicação é ineficaz, há um aumento da vulnerabilidade do adolescente, pois o mesmo perde o privilégio do acesso à informação, agindo sem conhecimento e lidando com resultados inesperados e surpreendentes.
A adolescente e seus familiares enfrentam momentos conflituosos e árduos, desde o início da gravidez, no instante do parto e/ou até mesmo, após a criança vir ao mundo. Devido à necessidade de confronto com as mudanças ocorridas na rotina, a frustração ao ver tantos planos interrompidos, problemas de ordem financeira que, consequentemente, afetam e geram conflitos de relacionamento familiar, gerando episódios regados de muito estresse, dúvidas e sofrimentos, exigindo uma reformulação e reavaliação de crenças que, muitas vezes, é empecilho para uma tomada mais racional de decisões necessárias para o momento vivido25.
São muitos os impactos causados pela gravidez na adolescência que podem afetar vários aspectos da vida e do bem-estar das adolescentes, de seus filhos e principalmente de seus familiares26. É a partir da notícia de uma gestação inesperada que tais impactos começam a aparecer, uma vez que os sentimentos de medo, de insegurança, as preocupações com o futuro, a angústia relacionada à vida financeira e, até mesmo, de como a sociedade irá lidar com isso, os olhares de julgamento e a vergonha tem prevalência não só da vida da jovem como também impactam vida existente em seu convívio.
Há um déficit no repasse da informação acerca desses assuntos por parte da família para com os adolescentes, com isso, pode-se constatar a dificuldade de diálogos por não ter uma boa comunicação em um ambiente doméstico27. A gravidez é encarada como um problema na família, provocando questões individuais e coletivas que envolvem conflitos particulares, uma vez que, normalmente, os pais são pegos de surpresa e têm a atitude impulsiva de procurar culpados para tal desfecho e situação, causando uma fragilidade no relacionamento existente embasado na vergonha, no constrangimento e nos pensamentos de não saber o que fazer frente a isso.
Diante de pesquisas sobre o papel da estratégia de saúde da família na gravidez precoce, a atuação da Estratégia de Saúde da Família (ESF) deve ser centrada no processo de promoção, prevenção e assistência a gestante e familiares devido à necessidade do fortalecimento de vínculos e disponibilidade de informações28. Essas ações proporcionarão melhor qualidade de vida a mãe e ao desenvolvimento fetal, além de contribuir para a inclusão e melhor instruções dos pais da adolescente no cuidado da mesma.
Em resumo, a gravidez na adolescência pode gerar danos irreparáveis aos adolescentes e a família dos mesmos, no entanto, uma vez que, por achar que sexualidade está diretamente ligada ao ato sexual, a família se esquiva de uma comunicação aberta sobre a temática, despertando a curiosidade no jovem e pré-estabelecendo ações sem o conhecimento adequado.
Em geral, os riscos acarretados por gestação precipitada, além do abandono dos estudos, pode-se citar o afastamento dos amigos e colegas, a exclusão preconceituosa do meio social, que pode ser uma consequência recorrente, bem como dificuldades econômicas, empobrecimento familiar e sobretudo a dificuldade de introdução e estabilização no mercado de trabalho. Com isso, é possível acreditar que os problemas socioeconômicos nessa nova família, são os contratempos que mais, dentre muitos, afetam em um tempo mais duradouro e prolongado à mãe adolescente e seu bebê29.
A sociedade atual, apesar de estar com conceitos mais atualizados, ainda demonstra resquícios de crenças preconceituosas e opiniões negativas e, algumas vezes, agem com distinções e julgamentos para determinadas situações30. Isso porque quando uma adolescente de família mais pobre passa por uma gravidez precoce, a sociedade reage com isso ofensivamente e hostil, com comportamentos e falas carregadas de julgamento, ao invés de oferecer-lhe ajuda, conforto e assistência necessária para passar por um momento de extrema surpresa, incapacidade e aflição31.
A problemática econômica da gravidez na adolescência é maior à medida que a idade da adolescente é menor, pois é desencadeado uma corrente maior e mais forte de pobreza, onde a falta de escolaridade, formação e conhecimento impossibilitam a púbere de ser inserida no mercado de trabalho, visto que, a mesma é dotada de um currículo escasso de experiência e formação. Quando achada uma oportunidade de trabalho, a falta de conhecimento acerca de direitos trabalhistas e extrema necessidade de uma fonte de renda para seu sustento e principalmente do bebê, força a menina mãe a aceitar o que for imposto, aumentando os índices de pobreza que assola por muito tempo nesse novo âmbito familiar32.
Em síntese, muitos são os impactos na vida da adolescente, não obstante, vale destacar a evasão escolar e redução das oportunidades de inserção no mercado de trabalho que geram, na maioria das vezes, insatisfação pessoal e constância do ciclo de pobreza. Além dos pré-julgamentos e pré-conceitos que desestabilizam psicologicamente a mãe adolescente, ocasionando uma exclusão social e, por mais que subjetiva, a perca do direito constitucional do convívio social e familiar.
Considerações finais
Diante de tantos reveses, problemas sociais e financeiros, baixo índice de escolaridade e a obrigatoriedade de assumir responsabilidades adultas ainda na adolescência, a gravidez precoce se consolida como um dos grandes desafios da saúde pública. Essa problemática não afeta apenas a jovem mãe, mas se estende à criança, à família e à sociedade como um todo, impactando diversas esferas da vida social, econômica e emocional. As dificuldades enfrentadas desde a descoberta da gestação até o pós-parto são inúmeras, envolvendo desde o abandono escolar e a instabilidade financeira até a falta de apoio familiar e psicológico, além dos riscos à saúde materna e infantil.
Ao longo deste estudo, ficou evidente que a gravidez na adolescência não pode ser tratada de forma isolada ou simplificada, pois é resultado de uma complexa teia de fatores que envolvem condições socioeconômicas precárias, falta de acesso a informações, tabus culturais e até mesmo a perpetuação de padrões patriarcais que desvalorizam a autonomia da mulher sobre o próprio corpo. Em muitas comunidades, a ausência de políticas públicas eficazes e de programas educacionais voltados à sexualidade e ao planejamento familiar contribui significativamente para a permanência desse ciclo, dificultando a adoção de medidas preventivas e o desenvolvimento de estratégias de enfrentamento adequadas.
Outro ponto essencial a ser destacado é a resistência social à disseminação de informações sobre educação sexual e reprodutiva. O receio de abordar o tema de maneira franca e acessível para adolescentes reflete uma cultura que ainda trata a sexualidade como um tabu, impedindo que os jovens tenham acesso a conhecimentos que poderiam ajudá-los a tomar decisões mais informadas sobre sua própria saúde. Essa lacuna educacional contribui diretamente para a manutenção dos altos índices de gravidez na adolescência, reforçando a necessidade de se implementar políticas educacionais mais inclusivas e alinhadas à realidade desses jovens.
Além dos impactos imediatos, a gravidez precoce traz consequências de longo prazo, afetando o desenvolvimento pessoal e profissional da jovem mãe. A evasão escolar, a limitação no acesso a oportunidades de emprego e a sobrecarga emocional e psicológica muitas vezes resultam em ciclos de vulnerabilidade que podem se perpetuar por gerações. A criança gerada nessa circunstância também pode enfrentar dificuldades, uma vez que, em muitos casos, cresce em um ambiente com instabilidade emocional, econômica e social, fatores que podem comprometer seu desenvolvimento físico e cognitivo.
Portanto, é inegável que a prevenção da gravidez na adolescência deve ser tratada como uma prioridade tanto no âmbito da saúde pública quanto na esfera educacional e social. Investir em educação sexual, fortalecer redes de apoio, ampliar o acesso a métodos contraceptivos e desmistificar tabus sobre o tema são medidas fundamentais para garantir que adolescentes tenham autonomia sobre seus corpos e possam construir um futuro com mais oportunidades. A conscientização deve ser contínua e integrada, envolvendo escolas, famílias, profissionais da saúde e a comunidade, de forma a oferecer suporte não apenas para a prevenção, mas também para acolher e apoiar aquelas que já enfrentam essa realidade.
Por fim, ao compreender a gravidez na adolescência como uma questão que vai além do indivíduo e que tem raízes profundas na estrutura social, fica claro que sua solução não depende apenas de medidas pontuais, mas sim de um esforço coletivo para transformar mentalidades, promover igualdade de gênero e garantir que meninas e adolescentes tenham voz, escolha e possibilidades reais de um futuro promissor. Somente assim será possível reverter esse quadro e construir uma sociedade mais justa, informada e preparada para enfrentar esse desafio.
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Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)
CRUZ, Denny Ewerton Costa. Gravidez na adolescência: Impactos na vida da adolescente e família. Disponível em: https://revistadifatto.com.br/artigos/gravidez-na-adolescencia-impactos-na-vida-da-adolescente-e-familia/. Acesso em: 10/06/2025.