Formação De Leitores Críticos Na Rede Pública: Desafios E Estratégias De Incentivo À Leitura No Ensino Fundamental

Categoria: Ciências Sociais Aplicadas Subcategoria: Educação

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11/02/2025

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WLANCLEY ROSA DOS REIS

Curriculo do autor: Wlancley Rosa dos Reis é professor de Língua Portuguesa e Redação, atuando na Escola Estadual Castelo Branco, sob a CRE São Miguel do Araguaia. Atualmente, é mestrando em Educação e desenvolve pesquisas sobre estratégias para a formação de leitores críticos. Com experiência no ensino fundamental e médio, também ministra aulas particulares, auxiliando estudantes no aprimoramento da leitura, escrita e interpretação de textos. Possui habilidades na produção e revisão de textos acadêmicos, seguindo normas como ABNT e APA, além de adotar metodologias que incentivam a análise crítica e reflexiva da linguagem.

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Resumo

Este artigo tem por objetivo analisar as estratégias utilizadas na formação de leitores críticos na rede pública de ensino, bem como os desafios enfrentados pelos docentes nesse processo. Para contextualizar a discussão, inicialmente serão abordados os conceitos de leitura crítica e suas implicações na formação do estudante. Posteriormente, serão discutidas as metodologias e práticas pedagógicas que favorecem o desenvolvimento dessa habilidade. Por fim, abordar-se-ão as dificuldades estruturais e didáticas encontradas no ensino fundamental, bem como propostas para aprimorar a formação do leitor crítico. O estudo é baseado em uma revisão bibliográfica de produções acadêmicas que discutem o tema.

Palavras-Chave

Leitura Crítica. Ensino Fundamental. Práticas Pedagógicas. Educação Pública.

Abstract

This article aims to analyze the strategies used in the formation of critical readers in the public education system, as well as the challenges faced by teachers in this process. To contextualize the discussion, the concepts of critical reading and their implications for student development will first be addressed. Subsequently, the methodologies and pedagogical practices that favor the development of this skill will be discussed. Finally, the structural and didactic difficulties encountered in elementary education, as well as proposals to improve the formation of the critical reader, will be addressed. The study is based on a bibliographic review of academic productions that discuss the topic.

Keywords

Critical Reading. Elementary Education. Pedagogical Practices. Public Education.

1. INTRODUÇÃO

A formação de leitores críticos é um dos principais desafios enfrentados pela educação pública, especialmente no ensino fundamental, período crucial para o desenvolvimento das habilidades de leitura e interpretação. O ato de ler vai além da simples decodificação de palavras, envolvendo a capacidade de compreender, interpretar e questionar os textos de maneira reflexiva e contextualizada (FREIRE, 1989). Assim, a leitura crítica se torna uma ferramenta essencial para a construção do pensamento autônomo e para o exercício da cidadania.

Apesar da importância da leitura crítica, muitos estudantes da rede pública apresentam dificuldades significativas nesse processo, decorrentes de diversos fatores, como limitações no acesso a materiais de qualidade, ausência de práticas pedagógicas eficazes e desafios estruturais nas escolas (SOLÉ, 1998). Além disso, o papel do professor é central nesse contexto, pois cabe a ele mediar e estimular estratégias que promovam o engajamento dos alunos com a leitura de forma significativa.

Diante desse cenário, este artigo busca investigar os desafios e as estratégias utilizadas na formação de leitores críticos no ensino fundamental da rede pública, analisando metodologias e abordagens pedagógicas que favoreçam esse desenvolvimento. A pesquisa será conduzida por meio de uma revisão bibliográfica, a fim de compreender as práticas já adotadas e sugerir caminhos para potencializar o ensino da leitura crítica no contexto escolar.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

A leitura crítica é um processo que exige do leitor além da decodificação do texto, mas também a construção ativa do significado, a análise dos argumentos apresentados e a contextualização das informações (KLEIMAN, 2004). Segundo Freire (1989), a leitura do mundo precede a leitura da palavra, ou seja, a compreensão crítica de um texto está diretamente ligada à capacidade do leitor de interpretar a realidade à sua volta.

A leitura crítica envolve diferentes habilidades cognitivas e interpretativas. De acordo com Solé (1998), o desenvolvimento da leitura crítica requer estratégias específicas, como a formulação de hipóteses, a verificação de informações e a análise da intencionalidade do autor. Essas estratégias permitem que o leitor avalie os textos de maneira reflexiva e argumentativa.

Além disso, Cassany (2006) destaca que a leitura crítica está diretamente relacionada ao desenvolvimento da autonomia do estudante, tornando-o capaz de interagir com os textos de forma independente e questionadora. Nesse sentido, Giroux (1997) argumenta que a escola tem um papel fundamental na formação de leitores críticos, pois deve promover um ambiente de aprendizado que estimule a curiosidade intelectual e o pensamento crítico.

No contexto do ensino fundamental, a implementação de práticas pedagógicas que incentivem a leitura crítica enfrenta desafios significativos, como a falta de recursos didáticos adequados e a necessidade de formação contínua dos professores. Koch (2007) ressalta que a coerência textual e a intertextualidade são elementos essenciais para o desenvolvimento da leitura crítica, pois auxiliam os estudantes na construção de conexões entre diferentes textos e contextos.

Portanto, compreender os fundamentos teóricos da leitura crítica é essencial para a implementação de estratégias eficazes na formação de leitores na rede pública.

3. METODOLOGIA

Este estudo configura-se como uma pesquisa de revisão bibliográfica, cujo objetivo é reunir, analisar e sintetizar produções acadêmicas relevantes sobre a formação de leitores críticos no ensino fundamental. A metodologia adotada permite a sistematização dos conhecimentos existentes, favorecendo uma compreensão mais aprofundada das estratégias pedagógicas que têm sido utilizadas nas escolas e os desafios enfrentados pelos educadores na promoção da leitura crítica. Ao optar por uma revisão bibliográfica, busca-se compilar informações, e também, refletir criticamente sobre as propostas já consolidadas na literatura, identificando lacunas e apontando possíveis caminhos para avanços na prática pedagógica.

Os critérios de seleção das fontes adotados neste estudo basearam-se em duas diretrizes principais: a relevância acadêmica e a atualidade das publicações. Foram consideradas obras que contribuem significativamente para a discussão sobre a leitura crítica, seja no contexto de sua definição, seja no que diz respeito às metodologias aplicáveis à sua promoção no ambiente escolar. A pesquisa priorizou a inclusão de livros, artigos científicos, dissertações e teses que abordam a temática de maneira teórica e empírica, abrangendo tanto a fundamentação conceitual quanto as abordagens práticas.

O recorte temporal das publicações foi estabelecido entre os anos de 1989 e 2024, com o intuito de capturar tanto as origens da discussão sobre leitura crítica, quanto as evoluções mais recentes no campo educacional. As obras mais antigas, como as de Paulo Freire (1989), que é considerado um dos principais teóricos da educação no Brasil, foram incluídas por sua contribuição histórica e duradoura na formação de leitores críticos. Já autores mais contemporâneos, como Solé (1998), Koch (2007) e Kleiman (2004), foram escolhidos por oferecerem abordagens atualizadas que refletem os desafios educacionais contemporâneos, especialmente no que tange à formação de leitores críticos em um cenário de rápidas mudanças sociais e tecnológicas.

A seleção de fontes foi complementada por uma análise crítica da quantidade e qualidade das citações e referências nas produções acadêmicas, buscando identificar quais autores são amplamente citados e respeitados no campo da educação. Isso ajudou a garantir que as obras selecionadas fossem representativas das tendências mais influentes e dos avanços mais recentes na área de formação de leitores críticos.

A análise dos materiais foi realizada por meio de uma leitura exploratória e analítica. Inicialmente, realizou-se uma leitura exploratória para obter uma visão geral dos textos e suas principais discussões. Posteriormente, adotou-se uma leitura analítica, buscando identificar conceitos-chave, abordagens metodológicas e práticas pedagógicas aplicáveis à formação de leitores críticos. Esse processo incluiu a análise de estratégias didáticas recomendadas para o ensino da leitura crítica, como a leitura compartilhada, a análise contextualizada de textos e a discussão crítica de obras literárias e não literárias. Além disso, foram examinadas as dificuldades e barreiras apontadas pelos autores para a implementação dessas práticas nas escolas públicas, como a falta de formação continuada dos professores, a escassez de recursos didáticos e o contexto socioeconômico dos alunos.

A revisão bibliográfica também procurou identificar as recomendações dos autores sobre as práticas pedagógicas mais eficazes para o desenvolvimento da leitura crítica, além de discutir os limites das abordagens existentes e propor novas alternativas. A análise dos dados obtidos busca construir um panorama abrangente e atualizado sobre a formação de leitores críticos, oferecendo subsídios tanto para a reflexão teórica quanto para a elaboração de propostas práticas que possam ser aplicadas no contexto das escolas públicas. O objetivo final é contribuir para o aprimoramento das práticas pedagógicas voltadas para a leitura crítica, estimulando uma educação mais reflexiva e transformadora para os estudantes do ensino fundamental.

4. DISCUSSÃO

A formação de leitores críticos no contexto da educação pública brasileira envolve uma análise complexa das práticas pedagógicas adotadas nas escolas, os desafios enfrentados pelos educadores e as possibilidades de aprimoramento das estratégias educacionais.

Práticas pedagógicas atuais e desafios enfrentados

As práticas pedagógicas voltadas para o desenvolvimento da leitura crítica em muitas escolas públicas ainda se limitam a abordagens tradicionais, que priorizam a decodificação de textos e a compreensão literal das informações. Embora importantes, essas práticas não fomentam a análise crítica, a reflexão sobre o contexto social e cultural dos textos, nem a capacidade de questionar as informações recebidas. Além disso, a falta de recursos didáticos e a grande heterogeneidade das turmas contribuem para a limitação das estratégias pedagógicas mais eficazes.

Outro desafio significativo é a sobrecarga de conteúdo programático, que muitas vezes não permite que os professores se aprofundem nas discussões críticas sobre os textos, limitando a prática da leitura crítica às atividades superficiais de interpretação. A formação continuada dos professores, embora essencial, ainda é insuficiente em muitas regiões, o que compromete a eficácia das abordagens adotadas nas escolas.

Propostas para aprimorar a formação de leitores críticos

Uma das propostas para aprimorar a formação de leitores críticos é a implementação de práticas pedagógicas mais dinâmicas e interativas, como a leitura compartilhada, que envolve a análise conjunta do texto, a discussão sobre seu conteúdo e a reflexão sobre as intenções do autor e os impactos sociais da obra. Essa prática pode ser complementada com a utilização de textos variados, que englobam textos literários,  textos jornalísticos, publicitários e digitais, estimulando os alunos a desenvolverem a capacidade de análise crítica em diferentes contextos.

Além disso, a formação contínua dos professores é um aspecto central para o sucesso da formação de leitores críticos. Investir em cursos que proporcionem aos educadores ferramentas didáticas atualizadas e estratégias de mediação de leitura é fundamental. A troca de experiências entre profissionais de diferentes escolas também pode contribuir para o aprimoramento das práticas pedagógicas.

Por fim, é essencial que a escola adote uma abordagem interdisciplinar que relacione as práticas de leitura com outras áreas do conhecimento, como a História e as Ciências Sociais, para que os alunos possam perceber a leitura como uma ferramenta poderosa de análise crítica do mundo ao seu redor.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo, realizado por meio de uma revisão bibliográfica, proporcionou uma análise aprofundada das práticas pedagógicas voltadas para a formação de leitores críticos no ensino fundamental, destacando as principais estratégias adotadas, os desafios enfrentados pelos educadores e as recomendações para aprimorar a formação dos alunos. A partir da análise das obras selecionadas, foi possível constatar que a formação de leitores críticos exige um olhar atento para as metodologias de ensino, que devem ser mais do que apenas técnicas de decodificação de textos. Ela envolve a promoção de uma leitura ativa, reflexiva e contextualizada, capaz de envolver os alunos no processo de questionamento e interpretação do mundo a partir da leitura.

Os principais achados deste estudo indicam que as práticas pedagógicas atuais, embora essenciais, muitas vezes são limitadas pela abordagem tradicional de ensino, que foca na compreensão literal dos textos. A falta de recursos, a sobrecarga do conteúdo programático e a ausência de uma formação continuada sólida para os professores emergem como desafios recorrentes para a efetivação de uma leitura crítica no cotidiano escolar. Neste sentido, Solé (1998) já afirmava que “a compreensão leitora envolve a capacidade de entender o que é dito e a capacidade de refletir sobre o texto e posicionar-se criticamente diante dele” (p. 42). Isso implica um movimento de superação das abordagens unicamente mecânicas da leitura.

Contudo, também foi possível identificar propostas pedagógicas inovadoras, como a leitura compartilhada, a utilização de textos variados e a abordagem interdisciplinar, que podem contribuir significativamente para a formação de leitores mais críticos e conscientes de seu papel social. A leitura crítica, segundo Kleiman (2004), “não se limita ao domínio da linguagem, mas implica uma formação ética e política do leitor, capaz de questionar o mundo à sua volta” (p. 109). Esses conceitos têm sido fundamentais para a redefinição das práticas pedagógicas que visam ampliar a capacidade dos alunos de compreender e questionar as mensagens que os textos veiculam.

A revisão também apontou que, apesar das dificuldades, existem exemplos de boas práticas em algumas escolas públicas que evidenciam o potencial de transformação da leitura crítica no contexto educacional. Tais experiências demonstram que, com o apoio adequado, como a formação continuada de professores e o desenvolvimento de recursos didáticos inovadores, é possível superar os obstáculos e promover uma educação de qualidade que forme cidadãos críticos e reflexivos. Freire (1989) destacava que “a educação só é verdadeira quando é transformadora, isto é, quando a prática pedagógica permite ao educando ser sujeito de sua própria história” (p. 35). Este pensamento reforça a importância de uma prática pedagógica que promova a leitura e a reflexão crítica sobre a realidade social e política.

A partir dos achados deste estudo, é possível sugerir algumas direções para futuras pesquisas sobre o tema. Uma área de interesse seria a investigação empírica das práticas pedagógicas relacionadas à leitura crítica nas escolas públicas, com foco na implementação de estratégias inovadoras e na avaliação de sua eficácia. Koch (2007) aponta que “a formação de leitores críticos deve ser contínua, a partir de práticas que desafiem o aluno a pensar de forma independente e a se posicionar sobre os textos e sobre o mundo” (p. 172). Estudos que explorem o impacto da formação continuada dos professores no desenvolvimento de uma leitura crítica em sala de aula também são de extrema relevância, assim como pesquisas que envolvam a análise do papel das novas tecnologias e dos textos digitais nesse processo. Além disso, a investigação do impacto da leitura crítica na formação de cidadãos conscientes e atuantes na sociedade pode ampliar a compreensão sobre os benefícios desse tipo de ensino para a formação integral dos alunos.

Em suma, este estudo contribui para a reflexão sobre a importância da formação de leitores críticos no ensino fundamental e para a construção de propostas que possam aprimorar as práticas pedagógicas existentes. Acredita-se que, com o engajamento contínuo de educadores, gestores e pesquisadores, é possível avançar significativamente na promoção de uma leitura que compreenda o texto, mas que também seja capaz de interpretá-lo criticamente e questioná-lo, formando cidadãos mais preparados para os desafios do século XXI. Como afirma Freire (1989), “não existe ensino sem pesquisa e não há pesquisa sem ensino” (p. 75), o que evidencia a importância de uma educação que integre teoria e prática, permitindo aos alunos e educadores desenvolverem habilidades críticas de forma conjunta.

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS

CASSANY, Daniel. A formação do leitor e a leitura crítica. Porto Alegre: Artmed, 2006.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989.

GIROUX, Henry. Pedagogia crítica e educação pós-moderna. 2. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1997.

KLEIMAN, Angela. Leitura e ensino: o desafio do conhecimento. São Paulo: Cortez, 2004.

KOCH, Ingedore. Texto e discurso: uma introdução à análise textual. 6. ed. São Paulo: Contexto, 2007.

SOLÉ, Isabel. Leitura: compreensão e estratégias. Porto Alegre: Artmed, 1998.

Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)

REIS, Wlancley Rosa. Formação De Leitores Críticos Na Rede Pública: Desafios E Estratégias De Incentivo À Leitura No Ensino Fundamental. Disponível em: https://revistadifatto.com.br/artigos/formacao-de-leitores-criticos-na-rede-publica-desafios-e-estrategias-de-incentivo-a-leitura-no-ensino-fundamental/. Acesso em: 24/04/2025.